sexta-feira, 4 de junho de 2010

Lá na curva do Xingu, o que é que vem?

Parece que não adianta a história acontecer apenas uma vez: tem que acontecer pela segunda, terceira vez e se der ainda, várias outras vezes. É, é um ciclo mesmo, mas não um ciclo da vida. É um ciclo de erros sem fim - e que não trará vida alguma.
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Há pouco mais de 500 anos, o Brasil havia sido "descoberto" - na verdade, foi encontrado - pelos brancos imigrantes. Imagino o choque que os indígenas limpos e cheirosos devem ter tomado ao ver em seu território uma frota de homens sujos, peludos e mal educados.
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Todos já sabem no que deu o resto da história: morte de mais da metade dos povos indígenas, início da destruição da amazônia - e de todo o resto - mais uma série de prejuízos. Difícil é tentar ver algo realmente bom nessa história, pelo menos para nós. É uma história de humilhação, sangue e perdas, muitas perdas.
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Mas tudo isso já passou, e discutir o passado não resolve os problemas do momento. O que importa, é o agora. E agora, mesmo depois de tudo, com cara e roupas novas, a história se repete.
Dessa vez não tem tanta diferença entre brancos e peles-vermelhas, imigrantes ou nativos: todos são brasileiros. E não é mais uma briga, é uma guerra.
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De um lado, o Governo Federal visando um susposto lucro e desenvolvimento que talvez nem aconteçam de fato; e do outro lado, o resto do povo indígena, ribeirinhos, paraenses, brasileiros (e mesmo norte-americanos, como James Cameron) e claro, a (pelo governo, nem tão) querida e bela Amazônia: nosso último, único e principal tesouro - a nossa casa.
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O assunto em questão é: a Usina de Belo Monte. Uma promessa de lucro, empregos, maior quantidade de energia e uma encheção enorme de linguiça que todo mundo já conhece. Parece até coisa boa, se em troca não fossem sacrificados os lares de ribeirinhos, indígenas, animais, árvores e todo o resto, gerando um grande impacto que o meio ambiente NÃO precisa, considerando as circunstâncias atuais nas quais se encontra nosso planeta.
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Isso pode até soar meio apocalíptico, e vocês podem me dizer "ah, de novo esse papo", mas o problema é esse: se todo mundo já sabe o que é, do que se trata, e o que está em jogo, por que nada é feito?
(Porque somos todos acomodados e egoístas demais.)
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Quando era criança, tive a oportunidade de ver Pocahontas, uma antiga animação 2D da Disney. Pode ser que os Walt Disney só quisessem ganhar dinheiro com sua produção, mas é certo que o desenho é quase um retrato perfeito da situação atual. Tenho certeza que todo mundo que é do Pará, ou mesmo quem nem é, mas ao menos se preocupa com a situação, está se perguntando: Lá na curva (do Xingu) o que é que vem?
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Será que todo esse esforço do Governo Federal em levantar uma Usina do zero - sendo que já existem outras - que vai desmatar, acabar com casas de família, matar animais, desrespeitar nativos, piorar a situação do meio ambiente, acelerar a destruição da pouca natureza que nos resta (agora a gente respira um pouco), tudo isso só para funcionar na prática por volta de uns 6 meses ao ano, gerando "mais empregos, lucro e energia"?
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Porque se for assim, não sei quanto ao resto, mas eu prefiro fazer um esforço e economizar energia - o que não é impossível. Será que vale mesmo a pena esse egoísmo todo? E fica a incógnita (de desespero) do que vai resultar todo esse processo. Se gerar mais lucro que prejuízo (não consigo ver como), reconheceremos um milagre.
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Por Vivian Nery Mendes
Aprendiz de jornalista
Twitter: @ViviFlowright

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