domingo, 6 de junho de 2010

Em busca do Eldorado

Por Denilson d'Almeida

Reza a lenda que Eldorado era uma terra indígena de riquezas abundantes, com ruas de ouro e construções erguidas em pedras preciosas, era a cidade do ouro – localizada próximo onde hoje fica Bogotá, na Colômbia. Esta história era contada por espanhóis no século XVI para atrair aventureiros para um mundo desconhecido chamado "América". A existência de Eldorado nunca foi confirmada, nem esquecida ao longo do tempo, tanto que quatro séculos depois um novo Eldorado surgia no coração da Amazônia - era a Serra Pelada, uma nova esperança no coração de mais 60 mil homens que caçavam a sorte na Amazônia.

Era o começo da década de 1980 quando um boato de que toneladas de ouro podiam ser encontradas em um córrego próximo ao morro da fazenda Três Barras, área hoje chamada de Serra Pelada. A notícia atraiu imigrantes de todas as regiões do Brasil, sobretudo dos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, e também de outros países como o Suriname, muitos nunca nem tinha visto a cor do metal. Em menos de três anos, a Serra Pelada já era considerada o maior garimpo a céu aberto do mundo da qual foram extraídas oficialmente 30 toneladas de ouro. Uma cratera, do tamanho equivalente a três estádios de futebol, com mais de 100 metros de profundidade foi o que restou da Serra.

Os garimpeiros que foram trabalhar na Serra Pelada eram tidos como verdadeiros selvagens que trabalhavam na lama e nela construíam suas moradias feitas em barracos de tábua que apodreciam rapidamente devido ao clima da região. Era um trabalho extremamente manual, milhares de miseráveis subiam e desciam a cava com sacos de lama nas costas, seus passos eram vigiados por agentes da Polícia Federal e por policiais militares. Não se tem registro exato de quantos garimpeiros estiveram na Serra Pelada, alguns dados revelam que foram 60 mil, outros 80 mil e no mais elevado 100 mil.

Só se sabe que a exploração do ouro na Serra Pelada contou com um trabalho humano surpreendente, alguns até comparam com a construção das pirâmides no Egito. Foram milhares de sonhos, muitos realizados, porém também foi uma luta incessante para sobreviver aos desafios naturais junto com a competição humana pela disputa da riqueza. Até a data da foto, era proibida a entrada de mulheres na Serra Pelada, entretanto neste mesmo ano passou a ser liberado acesso delas na área e a formação de famílias.

Neste contexto o novo Eldorado não foi apenas um período "áureo" na história da Amazônia nem a representa um universo de sonhos, nos quais muito realizados outros apenas idealizados, ele é uma lição para todos nós amazônidas cuidarmos do que é nosso. A cobiça de grandes grupos é apenas em sugar e lucrar, não importa o tamanho do buraco (ou que tipo) será deixado aqui, assim foi durante o Ciclo da borracha, na Serra Pelada, e está sendo agora.

Alcoa, Vale, Imerys, Natura e tantas outras agem por aqui lucrando à custa do suor amazônico, da sabedoria popular e indígena... até quando teremos que carregar lama nas costas? Com a palavra os sonhadores do novo Eldorado.

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