quinta-feira, 3 de junho de 2010

Divisão do Pará: Breve análise da cobertura do Portal do Jornal Diário do Pará (Período: março-maio/2010)


A divisão do Pará em três estados é uma discussão antiga, que ficou mais ferrenha com a proximidade da votação dos projetos de decretos legislativos que estabelecem a realização de plebiscito para aprovar ou não a redivisão do Pará em mais dois Estados – Carajás, no sudeste do território, e Tapajós, no oeste paraense.

Ao analisarmos as matérias vinculadas no portal Diário do Pará, pertencente a grupo de comunicação da família Barbalho, percebemos que todas as matérias, sem exceção, são favoráveis à criação dos dois novos estados, já que em momento algum apresenta argumentos de grupos e parlamentares que são contra a criação dos novos estados.

Na matéria Divisão do Pará: separatismo em debate, que trata a questão da criação do Estado de Carajás, publicada no dia 02 de maio, há um longo relato sobre a situação de Marabá. O repórter houve diversos políticos e militantes engajados na criação do Estado de Carajás. Nenhum parlamentar contra a criação do Estado é ouvido.

Já na matéria Divisão do Pará daria ao Tapajós quarto maior PIB, publicada no dia 25 de abril, a criação do estado do Tapajós é colocada como um ótimo negócio e fala da estrutura de Santarém, que abriga “nada menos que seis instituições de ensino de nível superior, sendo três faculdades públicas. Nela estão localizados o maior porto do oeste paraense, no rio Tapajós, e também o maior aeroporto da região”. Mais uma vez nenhum aspecto negativo que a criação do novo estado, como dívidas públicas e o fim da diversidade de pólos regionais presentes no Estado do Pará, é citado.

Situação semelhante de parcialidade ao vincular apenas um lado da situação, é percebida nas matérias Plebiscito por Estado do Tapajós vai à votação (19 de março) e Divisão do Pará em pauta até o final do mês (17 de abril).

Fazendo uma busca no blog do deputado federal Jader Barbalho (PMDB), não foi difícil encontrar a opinião do deputado à respeito da divisão: “Como tenho sido frequentemente abordado sobre a posição que tenho em relação ao assunto, digo que sou completamente favorável ao plebiscito e também a seu resultado”. Ele diz, de uma forma que não o compromete, que é favorável ao plebiscito e a decisão do povo, mas é notório que o deputado é a favor da criação dos dois novos estado e reflete sua opinião e a do seu partido nas notícias veiculadas em seus meios de comunicação.


Por Camila Barros, Lorena Palheta e Thaís Braga.

Um comentário:

  1. A discussão emancipatória ou separatista sobre a criação de novos estados no Pará ganha menos ares de geopolítica do que ares de uma pobre celeuma entre seus defensores.
    É notório que os discurso de defesa tanto de um quanto de outro está marcado por um realismo político latente tanto nos que já estão nela - política - quanto os que querem legitimar seus interesses. Embora essa constante antropológica chamada Estado, esteja passando por uma de suas fases menos comprometidas com os arranjos de proteção social, tanto os separatistas quanto os que vem na separação um alívio, teimam em recorrer a esta entidade, que diga-se de passagem, é a entidade que em certa medida endossa as desigualdades entre as regiões deste país.
    Um Estado, geralmente é constituído de uma gama de planejadores e secretarias que lidam desde as finanças ao meio ambiente. Dessa forma o espaço de seu território deve dividir sua agenda pública de formas que sua ausência, invisibilidade ou opressão seja evitada. Sua presença no território para manter um certo padrão de simetria do desenvolvimento regional depende dos planejadores, bem como de sua receita ou poder de inovação que no caso do pará não tem se esbarrado na velha estrutura de controle técnico e politico baseada nas intervenções visando uma economia de fronteira que notoriamente cristalizou o modelo primário exportador dos séculos passados.
    Hoje se fala muito em responsabilidade fiscal, no entanto, ao longo do desenvolvimento do nosso Estado o que vemos é um distanciamento sem precedentes entre suas responsabilidades objetivas e as responsabilidades praticadas. Nesse sentido é que cremos que a discussão precisa se aprofundar, não podemos partir para as soluções técnicas da pobreza, da terra, da habitação, da saúde, da educação, da cultura e da economia sem discutir a decrescente legitimidade da representação política dos arranjos sociais e por tanto, sem discutir o próprio Estado bem como os setores que fazem de sua atividade econômica um extensão da política, privatizando as discussões públicas.

    Ebenezer Paixão

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